A Pérola Negre divulgou oficialmente a sinopse do
enredo para o Carnaval 2013 - "O espetáculo vai começar, Pérola Negra
apresenta: O Auto da Compadecida".
A escola da Vila Madalena tentará
voltar ao Grupo Especial exaltando a obra de Ariano Suassuna, com assinatura de
Andre Machado.
Confira a sinopse da escola:
INTRODUÇÃO:
De Ariano
Suassuna, o Auto da Compadecida é uma história altamente moral que narra a
intimidade com Deus e a simplicidade da relação dele com os homens, e mais, é
um apelo a misericórdia divina. Uma narrativa que retrata os pecados da carne
sem pudores, de forma alegre e descontraída, lembrando que todos nós estamos
sujeitos as maledicências carnais, pois somos seres humanos, logo, pecadores. E
que não existe alma puramente virtuosa, nascemos para conhecer, errar e
aprender se possível com os erros.
A justiça
comum, infelizmente praticada pela racionalidade, sufocada por formalismos
burocráticos e complicações que dão margem à deformação de seus verdadeiros
objetivos, não têm nenhum crédito aos olhos do povo, que procura a emoção
irresistível de sentir o Cristo do seu lado.
O sertão
sofrido do nordeste castigado pela natureza é o cenário ideal para o desenvolvimento
das personagens que praticam atos vergonhosos por medo da fome, do sofrimento,
da morte e da solidão. A simplicidade e o tom ingênuo característico deste
ambiente são fundamentais para a narrativa que ainda é reforçada pela
originalidade da linguagem do circo, onde a caricatura esta presente de forma
marcante e intuitiva. E é neste universo circense que acontecerá o julgamento
das personagens e também a intervenção da
Compadecida no momento propício, para
triunfo da misericórdia, inclusive para aqueles que terminam por fazer o que
não presta, não por maldade, mas por sua pobre e triste condição.
Após o
toque do clarim o palhaço anuncia que vai começar o grande espetáculo. O
AUTO DA COMPADECIDA!
Num
cenário nordestino
Onde a seca e a fome fizeram morada,
Existe apenas a fé em nossa Senhora
Ou cada um por si e Deus por nada.
Onde a seca e a fome fizeram morada,
Existe apenas a fé em nossa Senhora
Ou cada um por si e Deus por nada.
Na
verdade é justificado
As fraquezas da humanidade
Engana-se por medo, medo da fome,
Da falta de oportunidade
O homem simples do sertão
Se torna vilão, mas isso,
Isso não é nenhuma maldade
As fraquezas da humanidade
Engana-se por medo, medo da fome,
Da falta de oportunidade
O homem simples do sertão
Se torna vilão, mas isso,
Isso não é nenhuma maldade
João
Grilo é um personagem lendário da literatura do nordeste. E aqui aparece
formando uma dupla pra lá de esperta com seu amigo Chicó na cidade de Taperoá.
Juntos convencem um padre, um sacristão e um bispo, a fazerem o enterro em
latim do cachorro dos seus patrões, pois estariam todos incluídos no testamento
do cão. Antes do enterro do defunto, lhe tiraram a bexiga enchendo-a com sangue
de galinha, e Chicó, a esconde no bolso da camisa...
Ofereceram também à mulher
adultera do padeiro avarento, um gato que “descome” dinheiro.
Taperoá é
invadida por cangaceiros liderados por Severino do Aracaju que entra na igreja
para roubar e executar as suas vítimas. E assim o fez...
João
Grilo alega possui uma gaita “mágica” que cura ferimento de bala e gostaria de
presentear o carcará. Com ela, Severino poderia morrer, conhecer
Padre Cícero e
depois voltar. O cangaceiro duvida. É quando João enfia um punhal em Chicó
perfurando astutamente apenas a bexiga que continha o tal sangue de galinha, o
sangue escorre e Chicó cai a se estrebuchar até “morrer”. Em seguida João toca
a gaita e o suposto defunto começa a mexer e logo esta de pé.
Estarrecido
e ansioso por conhecer Padre Cícero, no qual é devoto, o ingênuo Severino pede
a um de seus cabras para tirá-lhe a vida e em seguida tocar gaita. Assim é
feito, mas ele não revive. Então, João e Chicó esfaqueiam o cangaceiro
atirador. No entanto ao soltá-lo, o sujeito ainda encontra forças e atira em
João que também morre.
O AUTO DA
COMPADECIDA!
Chegou à hora do julgamento de alguns canalhas, para exercício da moralidade!
No
julgamento o Encourado faz as acusações, pronto para carregar para o inferno os
pecadores.
Num
estante, levados por uma força irresistível, todos vão se ajoelhando vagarosamente
e o Encourado se afasta virando-se de costas para não ver Cristo.
O Cristo
é um negro retinto, com uma bondade simples e digna nos gestos e nos modos,
amparado por uma luz suavemente intensa, é Manuel, o Leão de Judá, o filho de
Davi, chamado também de Jesus, de Senhor, de Deus...
Sentado em seu trono
divino, ordena que o Encourado fique de frente e faça as acusações.
Entusiasmado o próprio diz que nunca teve uma safra tão boa, tão cheias de
pecados: um bispo interesseiro, arrogante e apodrecido de sabedoria mundana; um
padre que se pode atribuir todos os defeitos do bispo mais a preguiça; um
sacristão hipócrita e ladrão de igreja, um padeiro avarento casado com uma
mulher adultera; um cangaceiro devoto de Padre Cícero que matou mais de trinta;
e por ultimo João, um grilo esperto e mentiroso que matou Severino, além de ter
planejado o enterro do cachorro e a história do gato que “descome”
dinheiro...Todos estão envolvidos em pecados e maledicências e prontos para
queimarem no fogo do inferno, sem apelações, pela justiça do Encourado.
João
Grilo, diante as acusações, apela pela misericórdia da mãe da justiça – a
Compadecida.
“Valha-me
Nossa Senhora
Mãe de deus de Nazaré!
A vaca mansa dá leite,
A braba dá quando quer
A mansa dá sossegada
A braba levanta o pé
Já fui barco, fui navio,
Mas hoje sou escaler.
Já fui menino, fui homem,
Só me falta ser mulher
Valha-me Nossa Senhora
Mãe de Deus de Nazaré.”
Mãe de deus de Nazaré!
A vaca mansa dá leite,
A braba dá quando quer
A mansa dá sossegada
A braba levanta o pé
Já fui barco, fui navio,
Mas hoje sou escaler.
Já fui menino, fui homem,
Só me falta ser mulher
Valha-me Nossa Senhora
Mãe de Deus de Nazaré.”
E Nossa
Senhora aparece cercada de anjos, sob uma luz aconchegante, fazendo com que
todos se ajoelhem sem perceber. Triunfante, intercede por todos. Quase tudo o
que os homens fazem é por medo. Começam com medo e coitados, terminam por fazer
o que não presta, quase sem querer. O bispo foi por medo da morte, o padre por
medo do sofrimento, o padeiro da solidão, por isso perdoava a mulher para não
ficar só. Já ela, no começo do casamento era maltratada por ele – moça pobre
casada com homem rico – além de ter a condição de ser mulher, que hoje em dia,
tem que lutar por seus direitos.
“Meu
filho, perdoe estas almas,
tenha delas compaixão!Não se perdoando estas almas,
tenha delas compaixão!Não se perdoando estas almas,
Dá-se mais gosto ao cão!
Por isso absolva elas,
Lançai a vossa Benção.”
Por isso absolva elas,
Lançai a vossa Benção.”
Manuel
comenta que Severino foi instrumento da própria cólera, enlouquecido que a
polícia matou sua família e por isso não era responsável por seus atos.
Logo
pode ir pro céu. Já para os demais, estão reservados cinco últimos lugares no
purgatório, para que lá, apaguem o muito que fizeram e assegurem a sua
salvação.
“Pois
minha mãe leve as almas,
Leve em sua proteção,
Diga as outras que recebam,
Façam com elas união,
Fica feito o seu pedido,
Dou a elas a salvação.”
Leve em sua proteção,
Diga as outras que recebam,
Façam com elas união,
Fica feito o seu pedido,
Dou a elas a salvação.”
A
Compadecida também intervém a favor de João Grilo, dizendo que ele foi um pobre
que teve de superar as maiores dificuldades, numa terra seca e miserável.
Manuel até compreende as circunstancias em que João viveu, mas os mandamentos
existem e foram transgredidos.
Então, a
mãe da misericórdia pede que lhe dê outra oportunidade. E assim é feito.
Entretanto, João teria que fazer uma pergunta no qual Manuel não pudesse responder.
Lembrando-se da vez, em que o padre lhe ensinava o catecismo e lendo um trecho
do evangelho que dizia: ninguém sabe o dia e a hora em que o dia do juízo será,
nem o homem, nem os anjos que estão no céu, nem o filho, somente o pai... Então
João perguntou a Manuel: Em que dia acontecerá a sua segunda ida ao mundo?
Manuel
respondeu não respondendo. Disse que isso é um grande mistério e que não
poderia explicar nada agora, porque João iria voltar ao mundo e isso faz parte
da intimidade do Filho com o Pai.
Absolvido
então, João ajoelha-se aos pés de Nossa Senhora, beijando-lhe a mão. E enquanto
ele retorna ao mundo, o Encourado furioso corre para o inferno. Já na Terra,
João descobre que Chicó havia feito uma promessa a
Nossa Senhora para que ela
voltasse... É o milagre da fé pura e simples!
A
história da Compadecida termina aqui. Para encerrá-la, nada melhor do que o
verso com que acaba um dos romances populares em que ela se baseou:
“Meu
verso acabou-se agora
Minha história verdadeira,
Toda vez que eu canto ele,
Vem dez mil réis para algibeira
Hoje estou dando por cinco,
Talvez não ache quem queira.”
Minha história verdadeira,
Toda vez que eu canto ele,
Vem dez mil réis para algibeira
Hoje estou dando por cinco,
Talvez não ache quem queira.”
E se não
há quem queira pagar, peço pelo menos uma recompensa que não custa nada e é
sempre eficiente: o seu aplauso!
SOBRE A
LINHA DO SAMBA
•
Inspirado pela obra de Ariano Suassuna, o compositor deve arranjar o samba
enredo, tendo a figura do palhaço como o apresentador do espetáculo, pois é ele
quem narra a historia e apresenta os personagens.
• Pelo mesmo motivo, o samba enredo tem que ser alegre e debochado,
características contidas também nos “repentes” (corrente musical comum da
cultura nordestina), que poderá servir de inspiração na estrutura dos versos.
• Cabem na letra do samba, palavras originais do sotaque nordestino.
• É sugestionável que na composição do samba não haja necessidade da inclusão
dos nomes das personagens, contudo, seus defeitos e pecados, serão de suma
importância.
• A ideia do enredo e seu desenvolvimento induzem que a primeira parte do samba
seja como numa apresentação de circo, onde o mestre de cerimônia (no caso o
palhaço) anuncia o espetáculo e logo em seguida faz uma introdução do que o
publica irá assistir.
• O julgamento, onde o Encourado faz as acusações às personagens, poderá ser
utilizado no refrão do meio.
• A aparição da Compadecida poderá seguir na segunda parte do samba e feita de
forma triunfal, após João Grilo invocá-la, pois será ela, a advogada dos
acusados citados anteriormente.
• Para o ultimo trecho do samba ficará reservado a sentença dos acusados por
Manuel.
• No ultimo refrão ou refrão de cabeça, sugerimos como acontece no fim de um
espetáculo, onde o artista humildemente agradece a atenção e os aplausos do
publico.
Obs.: O
que foi sugerido aqui serve apenas para indicar o caminho mais fácil para o
entendimento do que será mostrado no desfile. Contudo, continua válida a
licença poética do compositor, que tem total liberdade de criação, desde que
tenha coerência com a obra.
MONTAGEM
DE DESFILE
SETOR I:
O espetáculo vai começar
Como no
início de um espetáculo circense, o palhaço anuncia o espetáculo e apresenta as
personagens.
Abre-alas:
Abram-se as cortinas – o espetáculo vai começar!
SETOR II:
A morte das personagens
Acontece
a morte das personagens e eles fazem a passagem. Começa o julgamento e as
acusações feitas pelo encourado aos pecadores, onde são apontados seus
defeitos.
Segundo
carro: A passagem e a hora do julgamento
SETOR
III: A entrada triunfal da Compadecida
Caso
sejam condenados, o inferno é o destino certo para os pecadores. Entretanto, a
mãe da misericórdia é invocada para intervir a favor das personagens.
Terceiro
carro: Portal do inferno e a entrada da Compadecida
SETOR IV:
A sentença de Manuel e a festa de enceramento.
Manuel dá
o seu veredicto sobre o destino das personagens e acontece o enceramento do
espetáculo.
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