Com a presença de sua comunidade, diretoria e representantes de vários segmentos, a escola de samba Mancha Verde promoveu grande festa para lançar oficialmente o seu enredo para o Carnaval de 2013.
Quarta colocada pelo terceiro ano consecutivo na folia paulistana, a agremiação alvi-verde mostrou que está bastante motivada e empenhada para realizar mais um grande desfile e conquistar o inédito campeonato do grupo especial.
O tema "Mário Lago - O Homem do Século XX" foi lançado oficialmente em grande estilo, com direito a feijoada e apresentação teatral.
O palco do evento realizado na tarde do último sábado foi o Hotel Holiday Inn, na zona norte de São Paulo. Na ocasião, o presidente Paulo Serdan recebeu convidados, parceiros e representantes de agremiações co-irmãs para festejar o lançamento do enredo.
Quem esbanjou simpatia e devoção ao pavilhão verde e branco foi a rainha de bateria Viviane Araújo que em comentou que sua ligação com a Mancha Verde é um casamento que deu certo.
"São oito anos com essa família. Através da Mancha tive o privilégio de fazer parte do Carnaval de São Paulo que é um espetáulo que cresce a cada ano", afirma.
Outra beldade que fez questão de participar da festa foi a musa Juju Salimeni.
Vivendo grande momento em sua carreira no meio artístico, a assistente de palco do programa "Legendários" da "Rede Record", disse que se sente orgulhosa em fazer parte da Mancha Verde e que está bastante ansiosa para o desfile do próximo ano.
"Tenho um carinho enorme pela comunidade. A cada evento o meu amor pela escola aumenta. É sempre motivo de alegria poder participar de momentos como este", declara Juju.
Presidente da Mancha
Autor do enredo de 2013, o presidente da Mancha Verde, Paulo Serdan, demonstrou bastante satisfação pela resposta da comunidade em relação a proposta da diretoria.
"Tenho certeza que este enredo levará a nossa escola novamente ao desfile das campeãs. Mário Lago é referência das mais importantes quando o assunto é cultura brasileira", afirma.
Segundo Serdan, oitenta por cento dos desenhos dos figurinos já estão prontos e em breve será iniciada a confecção das fantasias. No final de junho, serão iniciados os trabalhos no barracão.
Filho e Mário Lago se emociona com apresentação teatral do enredo
Quem presenciou a apresentação teatral do enredo para o próximo Carnaval da Mancha Verde foi Antônio Henrique Lago, um dos
filhos de Mário Lago.
filhos de Mário Lago.
Emocionado, Antônio disse que foi impossível conter as lágrimas ao recordar importantes momentos da trajetória de seu pai.
A história de Mário Lago se confunde com a do nosso teatro de revista, do rádio, do cinema, da música popular, da política, da militância e da boemia.
Lago foi advogado, poeta, radialista, letrista e ator. Escreveu 30 peças de teatro, publicou 11 livros, teve dezenas de composições gravadas, incontáveis atuações em novelas e uma vida cheia de história marcada por sua militância política e pelo seu senso de justiça e de direito.
Autor de sambas populares como "Ai, que saudades da Amélia" e "Atire a primeira pedra", ambos em parceria com Ataulfo Alves, fez-se popular entre as décadas de 40 e 50 e já foi tema do desfile da escola de samba Acadêmicos de Santa Cruz em 2001.
Confira a pré-sinopse da escola:
Mario
Lago nasceu na histórica Rua do Resende, no Rio de Janeiro, em 26 de novembro
de 1911, filho único de Antônio Lago, um jovem compositor, maestro e violinista
de sucesso, de uma família de músicos; e de Francisca Maria Vicência Croccia
Lago, jovem descendente de calabreses, oriunda também de família de músicos. A
família de Mario Lago, fazia valer sua influência italiana. Desde criança, a
arte exerceu absoluto fascínio sobre Mario Lago; uma atração igualada apenas
pela política, pela boemia e pela família.
A influência do Pai que foi primeiro
violino da Orquestra do Teatro Municipal do Rio de Janeiro, foi intensa.
Este,
mudou-se de Piracicaba em 1906 e passou a dedicar-se a música atuando como
regente em teatros de revista. Chegou a ser convidado para ser regente de coros
no Teatro Colon de Buenos Aires. Suas composicões mais famosas foram as canções
"O dia nasce", com Abadie Faria Rosa; "Penso em ti", com
Aníbal Pacheco e Celestino Silva e "Estilização" e a modinha
"Modinha".
Com sete
anos de idade, em 1918, é internado, vítima da epidemia de gripe espanhola que
assola o Rio de Janeiro e parte do Brasil. É curado, e deixa o hospital. Ainda
em 1918, começa a estudar piano com a esposa de Villa-Lobos, Lucila. Desiste
anos depois alegando que o piano o exigia muita disciplina - Era um preguiçoso
assumido. (compôs o samba 'salve a preguiça, meu pai).
Teve uma
intensa convivência com o avô o anarquista, Giuseppe Croccia, defensor de
ideias desenvolvimentistas. Dividia com ele o quarto e durante muitas noites
ouviu seus discursos inflamados, o que, com certeza colaborou para sua formação
política progressista e engajada. Em 1920, Giuseppe foi intusiasta da obra de
desmonte do Morro do Castelo, no centro do Rio, local que se destinaria às
exposições do 1º Centenário da Independência do Brasil e à Exposição
Internacional. Mario Lago acompanhou as obras e toda a movimentação em torno da
comemorações do centenário com diversas delegações de outros países. Foi
matriculado no tradicional Colégio Pedro II. E aos doze anos de idade, o
adolescente Mário já liderava uma greve estudantil no Colégio contra a
obrigação recém-instituída de levar canecas de casa. Nessa instituição modelar
de ensino teve a influência de outro anarquista, o professor de português José
Oiticica, que volta e meia ia preso, enquanto seus alunos vibravam com as
peripécias da
Coluna Prestes, expressão maior da rebeldia militar tenentista.
Nascido e criado na região central do Rio de Janeiro, Mario Lago teve sua
formação intelectual e social extremamente influenciada pelo universo da região
do bairro boêmio da Lapa, na região central do Rio de Janeiro. O bairro da Lapa
com seus famosos cabarés e restaurantes, era freqüentado pela fina flor dos
artistas, intelectuais, políticos, diplomatas e malandros. Daquela época até
hoje, a Lapa continua a pulsar. Quando a noite se vai, o burburio dos
engravatados começa a surgir e os raios de sol começam a aparecer, subindo em
uma de suas vielas ou becos aparece o malandro, chapéu panamá, calçado
brilhoso, terno impecável e mulher a tira-colo, partindo para o descanço
merecido de uma noite bem vivida. Ficou conhecido como Lagartão da Lapa, pelo
tipo esguio, pela lingua afiada... Foi neste ambiente que Mario Lago formou sua
personalidade, fugindo do Colegio Pedro II, tradicional reduto da elite
carioca. Era lá que vivia sua aventuras vespertinas, ainda
adolescente.
"Eu
já freqüentava a Lapa. A Lapa não foi conseqüência, não. A Lapa foi ponto de
partida. Porque eu morava perto. Eu com 16 anos já estava freqüentando a
Lapa... E protegido por um malandro cuja vida tinha sido salva por meu pai,
então ele me protegia, o Felipe Bonitinho. Então ele me protegia porque papai
salvou a vida dele. Papai era diretor da Orquestra do Clube do Joá, que ficava
em cima, na esquina, e ouviu dois caras combinando que iam fechar Felipe
Bonitinho. Quando Felipe Bonitinho chegou, papai saiu do palanque e foi falar
com ele: "Vai embora, porque tão querendo matar você". Eu comecei a
freqüentar a Lapa, aí eu tava na bilheteria conversando com o pessoal:
"Mário Lago, Mário Lago...", e um cara olhando pra mim, eu já tava
invocado... Eu quase mandei ele pastar, eu já tava invocado... Aí saiu todo
mundo, ele chegou e disse: "Posso sentar aí", perguntou, "Você é
parente do maestro Lago?". Eu digo: "sou filho".
"Sabe que
seu pai salvou minha vida?". E contou a história. E o mais engraçado é
que, quando contei isso a papai, ele disse: "não me lembro"... Foi
depois daí que eu comecei a freqüentar a Lapa, porque eu era estudante, no
Pedro II. Eu conheci então a grande palavra do estudante, que é gazeta, né?...
Até fui reprovado por isso. Eu queria mais ficar ali do que no Pedro II.
Comecei ali... Papai era de teatro, maestro... Quer dizer, minha vivência em
casa era sempre de música, de maestro e tal...
Depois,
lá pela década de 40, é que eu mergulhei fundo, três anos de freqüentador da
Lapa. O passo já ia sozinho, Café Nice, depois que o Nice fechava ia pros
cabarés da Lapa. Fui amigo de tudo que era vagabundo, era tudo amigo meu. Às
vezes, mas eles não era do cabaré que eu freqüentava. Tinham três cabarés, o
Royal Pigalle, um outro que eu não me lembro o nome e o Novo México, perto dos
Arcos.
"Não,
era um outro tipo de vida... A única coisa violenta que eu vi foram duas: a
prisão do Madame Satã, que não era fácil pra prender.. Nunca foi preso por
menos de seis guardas, jogava muito com a perna, né?... E a briga dele com
Geraldo Pereira. O Madame Satã era uma moça e o Geraldo Pereira também era uma
moça, quando não estava de porre. Quando estava de porre, ele saía procurando
briga. E lá na Lapa ele cismou com o Madame Satã, cismou... ficava dizendo
"Você é viado!...", "Tá bem, seu Geraldo...". Até que o
Geraldo disse: "Vou lhe dar uma porrada...". Aí ele disse: "ah,
não vai não...". E o Madame Satã só dava rabo de arraia na barriga do
Geraldo, que tinha um câncer no intestino.. Estourou o cano. Porque quando ele
foi dar uma porrada: "Ah, não vai não, seu Geraldo...". O Madame Satã
era difícil de pegar, chinelinho de salto alto, tamanquinho todo florido e
tal... - Você presenciou essa briga? "Presenciei, as duas, foram as únicas
coisa realmente violentas que eu vi ali".
A vida
política iniciada na Colégio e influenciada pelo avô anarquista, manifesta-se
com a arte e através da imprensa. Em 1926, publica seu primeiro poema,
'Revelação' na revista Fon Fon, publicação sobre a vida cotidiana da sociedade
brasileira que durou décadas. Ainda deste ano passa a escrever para o o Jornal
'O Radical', o único jornal que, num longo período da vida pública brasileira,
jamais deixou de combater o jogo político brasileiro. Começa ai a se expor como
um combativo contestador da ordem política vigente.
Sua
atuação política lhe custa a liberdade, com seis prisões no total, sendo a
primeira em 1932: Em 21 de janeiro, já na Juventude Comunista, é preso pela
primeira vez. Após um comício na porta da fábrica de tecidos Mavilis, da
América Fabril... Adota o codinome de Pádua Correia, uma homenagem ao nome com
o qual sua mãe queria batizá-lo - Mário de Pádua Jovita Correia do Lago - e que
acabou encurtado para
Mário Lago, por decisão pai. Ao ser solto, é conduzido
por policiais até a fronteira com o Uruguai e ameaçado de morte. Passa dois
meses como clandestino no Uruguai, e retorna ao Brasil. Ao voltar ao Brasil,
ainda em 32, entra para o Bola Preta, tradicional cordão carnavalesco do Rio de
Janeiro, que existe até hoje, do qual carrega os estandarte e para o qual
compõe hino: 'Braço é Braço' .
Em 1933,
termina a faculdade de Direito e estagia em um escritório de advogados por três
meses; quando desiste da profissão. Neste ano estreia como autor de teatro de
revista, com a peça 'Flores à Cunha', escrita exatamente para provocar o
general e político Flores da Cunha, que apoiava Getúlio Vargas em sua
'revolução'. O teatro de revista foi um genêro popular no Brasil, um veículo de
difusão de modos e costumes, como um retrato sociológico, ou como um
estimulador de riso e alegria através de falas irônicas e de duplo sentido. O
teatro Recreio, na praça Tiradentes no Centro do Rio era sua 'casa'.
Em 35,
iniciou sua vida de letrista e compôs a marcha 'Menina, Eu Sei de Uma Coisa'
com Custódio Mesquita, gravada em por Mário Reis.
Em 1936
escreve para o teatro de revista a peça o 'Sambista da Cinelândia', encenada
pela companhia teatral Casa de Caboclo, no Theatro Phenix, que ficava na esquina
da Avenida Rio Branco com a Rua Almirante Barroso Estreou em 22 de abril de
1936, sendo que a interpretação do samba-título era de Jurema de Magalhães, num
quadro em que interpretava uma sambista de morro que era recrutada para
trabalhar numa emissora de rádio. Era um contraponto à até então repressão
ostensiva da polícia ao sambista, quando então o samba como genêro, passa a ser
mais aceito pela sociedade.
Sambista,
desce o morro/ Vem pra Cinelândia, vem sambar/ Que a cidade já aceita o samba/
E na Cinelândia só se vê gente a cantar/ Hoje está tudo tão mudado /E acabou-se
a oposição/ Escolas há por todo lado/ De pandeiro e violão/ O morro já foi
aclamado/ E foi um sucesso colossal/ E o samba já foi proclamado/ Sinfonia
nacional/
Sua músca
'Nada Além' sobre as dores do amor se torna sucesso no ano de 1938.
Nada
além/ Nada além de uma ilusão/ Chega bem/ E é demais para o meu coração/
Acreditando em tudo que o amor/ Mentindo sempre diz /E vou vivendo assim feliz/
Na ilusão de ser feliz/ Se o amor Só nos causa sofrimento e dor/ É melhor/ Bem
melhor a ilusão do amor/ Eu não quero e não peço/ Para o meu coração/ Nada além
de uma linda ilusão
E Orlando
Silva grava em maio de 1938, a música de Mario Lago: 'Enquanto Houver Saudade'
Não posso
acreditar/ Que algumas vezes/ Não lembres com vontade de chorar/ Daqueles
deliciosos quatro meses/ Vividos sem sentir e sem pensar/ Não posso acreditar/
Que hoje não sintas/ Saudade dessa história singular/ Escrita com as mais
suaves tintas/ Que existem pra escrever o verbo amar/ Enquanto houver saudade/
Pensarás em mim/ Pois a felicidade/ Não se esquece assim/ O amor passa mas
deixa/ Sempre a recordação/ De um beijo ou de uma queixa/ No coração.
No auge
da sofisticação dos cassinos cariocas e aproveitando os astros da música no rádio,
João de Barro e Mário Lago escreveram em 1939, Banana da Terra e o roteiro
dessa comédia musical que apresenta alguns clássicos: começando com Carmen
Miranda cantando 'O Que É Que A Baiana Tem', do até então desconhecido Dorival
Caymmi. O sucesso é tão grande que Carmem adota a baiana estilizada e, meses
depois, segue para Hollywood passando por ''A Jardineira'' na voz de Orlando
Silva; ''Tirolesa'' com Dircinha Batista; e ''Sei Que é Covardia'' com Carlos
Galhardo. Com Roberto Roberti, em 1940, Mario Lago compõe outro grande sucesso
nas marchinhas de carnaval: 'Aurora', que. continua sendo hoje, 72 anos depois,
uma das mais tocadas nos bailes de carnaval Brasil afora. 'Aurora' é gravada
pela dupla Joel e Gaúcho. A música tem repercussão internacional na
interpretação de Carmem Miranda. O filme Segure o Fantasma (Hold that ghost),
da dupla Abbot & Costello, inclui versão em inglês da marchinha apresentada
pelas Andrew Sisters.
Se você
fosse sincera/ Oh, oh, oh, Aurora/ Veja só que bom que era/ Oh, oh, oh, Aurora/
Um lindo apartamento/ Com porteiro, elevador/ Um ar refrigerado/ Para os dias
de calor/ Madame antes do nome/ Você teria agora/ Oh, oh, oh, Aurora.
O diretor
teatral Joracy Camargo convida Mario Lago a subir ao palco no lugar do galã
principal da peça "O Sábio". Assim, em 1942, por acaso, Mário Lago
torna-se ator. Logo em seguida atua em uma das mais expressivas obras de Nelson
Rodrigues, 'O Beijo no Asfalto', uma crônica da vida cotidiana da classe média
baixa carioca, que seria atual nos dias de hoje. Mario Lago faz o papel de
Aprígio, pai de Selminha, a protagonista da obra.
Ainda em
1942, é gravado um de seus maiores sucesso na área musical, a marchinha
carnavalesca 'Ai que saudades da Amélia'. Que hoje, 7 décadas mais tarde, ainda
é referência em nosso cancioneiro, sendo regravada em diversos estilos
musicais, utilizada em comerciais de rádio e televisão, E, no dia-a-dia é usada
como menção à mulher perfeita, mesmo anos após a mulher brasileira ter passado
pela sua revolução profissional. Amélia existiu, era empregada doméstica na
casa de Almeidinha, irmão de Aracy de Almeida, que foi parceiro musical de
Mario Lago, e que sugeriu o tema que resultou na marchinha.
Nunca vi
fazer tanta exigência/ Nem fazer o que você me faz/ Você não sabe o que é
consciência/ Nem vê que eu sou um pobre rapaz/ Você só pensa em luxo e riqueza/
Tudo o que você vê, você quer/ Ai, meu Deus, que saudade da Amélia Aquilo sim é
que era mulher/ Às vezes passava fome ao meu lado/ E achava bonito não ter o
que comer/ Quando me via contrariado Dizia: "Meu filho, o que se há de
fazer!"/ Amélia não tinha a menor vaidade/ Amélia é que era mulher de
verdade
Era
início de 1944 e a convite de Oduvaldo Vianna foi ser autor, ator, diretor e
apresentador na recém-criada Radio Pan-Americana em São Paulo. Como parceiro, o
amigo de sempre, Oswaldo Louzada; a emissora iria ao ar somente depois do
carnaval. Mário aproveitou para passar a folia no Rio e, na chegada, na manhã
de sábado, uma surpresa agradável: "Atire a primeira pedra", nova parceria
com Ataulfo Alves, já estava na boca do povo. Na temporada paulista, o mesmo de
sempre: cabarés, mulheres, prisão por desobedecer a determinações da censura.
Acabou
voltando para o Rio e em 1945, entrou para a Rádio Nacional, então responsável
pela febre que assolava o país, a radionovela. Cantores e locutores eram
sobrepujados em popularidade pelo rádio-teatro. Mário, ainda estava longe dessa
seara. O emprego na Radio Nacional não foi muito longe. Novamente,
desobediência à censura. Dessa vez, não deu prisão, mas demissão. E Mario Lago
se transfere para a rádio Mayrink Veiga. É quando estreia no cinema em 'Asas do
Brasil' um filme da Cia. Atlântida, com participação de Oscarito, sobre a vida
dos pilotos de avião brasileiros, que teve a colaboração da Força Aérea
Brasileira. No mesmo ano, a música de sua autoria, 'Atire a Primeira Pedra' é
gravada.
Covarde
sei que me podem chamar/ Porque não calo no peito essa dor/ Atire a primeira
pedra, ai, ai, ai/ Aquele que não sofreu por amor/ Eu sei que vão censurar meu
proceder/ Eu sei, mulher/ Que você mesma vai dizer/ Que eu voltei pra me
humilhar/ É, mas não faz mal/ Você pode até sorrir/ Perdão foi feito pra gente
pedir.
Em 23 de
março de 1947, conhece Zeli Cordeiro, filha do dirigente comunista Henrique Cordeiro,
em um comício do Partido Comunista no Largo da Carioca, no Rio. Em novembro, os
dois se casam. E permanecem casados por 50 anos. Mario, apesar da vida boêmia,
soube como poucos preservar a família, o casamento, a união com os filhos.
Primeiro livro de Mário Lago, "O povo escreve a história nas
paredes", escrito em 1948, reúne poemas políticos que abordam temas como o
direito à terra, a defesa dos trabalhadores, a luta em defesa do petróleo
brasileiro, entre outros. Ele inclui ainda paródias do próprio
Mário para
algumas de suas músicas mais famosas, como Amélia. Também lidera a campanha: 'O
nosso petróleo é nosso", de tons nacionalistas.
Em 1949,
Mario Lago é preso pela segunda vez, na redação do jornal clandestino "A
Classe Operária" editado pelo PC do B, é então afastado da rádio Mayrink
Veiga. Chamado pelo dramaturgo Dias Gomes, Mario Lago passa a trabalhar para a
Rádio Bandeirantes de São Paulo. Em 1950 candidatou-se a deputado estadual pelo
Partido Social Trabalhista, de São Paulo. Durante um discurso, chama o
governador de São Paulo, Ademar de Barros, de calhorda. Em consequência disso,
foi demitido da Rádio Bandeirantes, pois Ademar de Barros era o dono da
emissora. Voltou para a Rádio Nacional no Rio de Janeiro. Foi um dos narradores
da novela cubana 'O Direito de Nascer'. Em 1951 foi ao ar pela Rádio Nacional o
maior fenômeno de audiência em radionovelas em toda a América Latina: era O
Direito de Nascer. Texto original de Felix Caignet com tradução e adaptação de
Eurico Silva. O original possuía 314 capítulos o que correspondia a quase três
anos de irradiação. No elenco estavam Nélio Pinheiro, Paulo Gracindo, Talita de
Miranda, Dulce Martins, Iara Sales, entre outros. Direito de Nascer surpreendeu
a todos os críticos e a todas as previsões que afirmavam que o rádio-teatro era
um gênero em decadência e que o público brasileiro não se interessava por
longas tramas. Neste ano escreve a novela 'Presídio de Mulheres', sucesso da
radionovela por 5 anos.
Sua
primeira aparição na TV como ator, foi na TV Rio, com o programa 'Câmera um',
de Jacy Campos em 1954.
Em abril
de 1954, é preso pela terceira vez, em sua casa, em Copacabana, no Rio, pelo
Departamento de Ordem Política e Social (Dops) e levado para a ilha das Flores.
É transferido para o presídio Fernandes Viana, na Frei Caneca, e fica preso por
58 dias. É demitido da Rádio Nacional pelo Ato Institucional n° 1, junto com
mais 35 colegas da emissora.Ficou dois anos sem trabalhar. Quando voltou,
estava sem dinheiro e sua família passava dificuldades. Ajudado por Dercy
Gonçalves, saiu da rádio direto para a TV. "Deixa esta besteira de partido
para lá. É hora de pensar no leite das crianças", disse Dercy. Em 1965,
Trabalha no filme 'O Padre e a Moça', de Joaquim Pedro, baseado no poema de Carlos
Drummond de Andrade abrindo uma sequência de atuações marcantes no cinema. A
chegada de um jovem padre sacode o imobilismo de uma pacata cidadezinha de
Minas Gerais. E entre o padre e uma bela jovem da cidade surge uma atração, de
início casta, e que se transforma em paixão ardente.
Sua
estreia na teledramaturgia na TV Globo se deu na novela O Sheik de Agadir foi
uma telenovela de Glória Magadan exibida na Rede Globo de 18 de julho de 1966 a
17 de fevereiro de 1967 às 21h30. Com direção de Henrique Martins e Régis
Cardoso. Teve 155 capítulos e foi baseada no romance Taras Bulba, de Nicolai
Gogol. Mario Lago fez o papel de Otto Von Lucken. Em 1967, atua no clássico
filme 'Terra em Transe' de Glauber Rocha no papel de Captain. Grande clássico
do Cinema Novo, o filme faz duras críticas à ditadura exatamente em seu auge.
O ano de
1968 foi intenso não só pela produção cultural mas também pela conturbada
situação política que viveu Mario Lago. Adapta, para a TV Tupi de São Paulo, o
seriado 'Presídio de Mulheres'. Atua no filme 'Bravo Guerreiro', de Gustavo
Dahl, e na peça 'Os Inconfidentes'' encenado no teatro municipal do Rio de
Janeiro, que tem direção de Flávio Rangel, poesia de Cecília Meireles e música
de Chico Buarque. Vale a pena registrar o que o grande artista e compositor
manifestou em discurso, numa das sessões, no final da peça. O texto foi gravado
por um agente do SNI, Serviço Nacional de Informações:
"Acabamos
de apresentar um espetáculo que fala e luta pela liberdade. Lutar pela
liberdade é uma obrigação que o homem tem diante da vida, uma luta permanente
como o próprio texto diz: uma voz se despediu, uma outra nasceu. A mocidade
estudantil brasileira luta juntamente com todos pelas liberdades gerais, mas
também tem as suas lutas específicas por mais verbas, para que se estude
melhor; contra os aumentos das anuidades, para que todos possam freqüentar as
escolas... Os atores apóiam a luta dos estudante. À saída do teatro os senhores
encontrarão vários estudantes recolhendo fundos para essa luta que eles estão
travando. Que as palmas que nos foram dadas se transformem em contribuição para
essa luta tão importante. Muito obrigado".
No dia 14
de dezembro, um dia após a edição do AI-5, é preso pela quarta vez, antes de
entrar em cena, na peça "Inspetor, Venha Comigo". É libertado no dia
31 de dezembro.
No ano
seguinte, em 25 de fevereiro, é preso pela quinta vez, por ter feito a tradução
de um livro sobre a Guerra do Vietnã. Volta à prisão meses depois, (a sexta
vez) quando da visita do senador norte-americano Nelson Rockfeller ao Brasil.
Em 1971, Mario Lago atua em 'São Bernardo'; um drama brasileiro, dirigido por
Leon Hirszman e com roteiro baseado no romance de Graciliano Ramos. É história
de um mascate consegue se transformar em um próspero fazendeiro, só que ele é
um homem torturado constantemente por suas obsessões e desconfianças. Como ator
de telenovela, e em um grande sucesso de Janete Clair, 'Selva de Pedra', Mario
Lago é Sebastião, pai de Cristiano Vilhena (Francisco Cuoco), que, seduzido
pelo poder, põe em risco sua felicidade ao lado da mulher, Simone (Regina
Duarte). É o ano de 1972. Em 1974, Mario Lago escreve 'Foru Quatro Tiradentes
na Conjuração Baiana', sobre a Revolução dos Alfaiates, na Bahia. Proibida pela
Censura, teve uma única leitura pública, com participação do próprio Mário, ao
lado dos atores Oswaldo Loureiro, Wanda Lacerda, Francisco Milani e Milton
Gonçalves, entre outros. E está sendo produzida desde 2012 no teatro. Mário
Lago, publica em 1975, a pesquisa folclórica 'Chico Nunes das Alagoas'. Sobre o
maior repentista brasieliro. Na visão de Mario Lago, Chico era um vagabundo,
mas poeta; irresponsável, mas poeta; cachaceiro, mas poeta; pornográfico e
grosso, mas poeta. Tudo que se falar dele tem que acrescentar
"Poeta", porque ninguém o foi mais do que ele.
No mesmo
ano, atua na novela de Janete Clair, 'Pecado Capital'. Primeira novela em cores
transmitida às 20h, Pecado Capital buscou tratar com realismo o universo
suburbano carioca a partir de um triângulo amoroso formado por um taxista, um
viúvo rico e uma jovem operária que sonha em melhorar de vida. Mário Lago
trabalhou nas duas versões da novela, no mesmo papel: Dr. Amato, o advogado.
Como
Atílio, Mario Lago vive um grande momento de sua carreira de ator, na novela 'O
Casarão' de 1976, que mostrou a decadência social de toda uma geração que
dependeu da cultura cafeeira no interior de São Paulo. Um grande sucesso
embalado pela música fascinação de Elis Regina. Por esta atuação, recebe o
prêmio de melhor ator pela Associação Paulista de Críticos de Arte (APCA).
Neste ano Publica o livro autobiográfico "Na rolança do tempo".
Inventada por Mário, a palavra rolança também vira verbete de dicionário.
No ano de
1979, Mario Lago atua como Alberico Santos, um homem sofisticado, típico morador
do bairro de Copacabana, sobrevive das lembranças do passado e conta com a
ajuda da filha para solucionar seus problemas financeiros. Com Dancin' Days, o
autor Gilberto Braga inaugurou o seu estilo dramatúrgico, marcado pela crônica
de costumes e pela discussão dos valores da classe média e das elites urbanas.
Mário Lago e 35 companheiros são anistiados (alguns "in memorian") e
reintegrados à Rádio Nacional, em 1980. O regime militar cada vez mais dava
sinais de desgaste e alguns sinais de abertura foram possíveis. Talvez tarde de
mais, para muitos que deram as vidas pela liberdade e democracia. Mario Lago
não perdeu a sua vida por esta luta mas a luta ganhou muito com a presença
ostensiva de Mario Lago. Na década de 80, a luta pela democracia se intensifica
com a população indo às ruas ao lado de artistas e políticos liberais e
progressistas. E claro lá estava Mario Lago ao lado da luta pela liberdade e
direito de decidir o futuro do país através do voto direto: Diretas já. Em
1984, Mario Lago escreve um livor infantil, 'O Monstrinho Medonhento'. A
história do monstrinho é constituida por duas partes bem distintas. A primeira
conta a vida de Medonhento como monstro - e o embate entre o bem e o mal, o
monstruoso e o humano; a Segunda fala da vida do monstrinho transformado em
menino, com a questão do conflito entre progresso e destruição da natureza.
Vive em
1985 Compadre Quelemem, em uma obra prima da televisão brasileira, 'Grande
Sertão Veredas'. Baseada na obra homônima de João Guimarães Rosa. A trama tem
como eixo central a relação entre Riobaldo e Reinaldo/Diadorim tendo a terra
como o grande tema da história. O vaqueiro Riobaldo narra sua vida num bando,
cheia de combates, vinganças, longas viagens, amores e mortes. No mesmo ano
atua como o Padre Lara, em 'O Tempo e o Vento' a maior obra da teledramaturgia
brasileira até então. A minissérie é baseada na primeira parte da trilogia
homônima de Érico Veríssimo, O continente. Mais de cem anos estão retratados no
romance, de 1777 a 1895, período repleto de transformações sociais, políticas e
culturais, essenciais para a formação do estado do Rio Grande do Sul. Ambas são
produções especiais que comemoraram os 40 anos da TV Globo. No ano de 1988, o
Brasil é impactado pelo assassinato de Chico Mendes, um ativista e sindicalista
acreano que lutava pela melhoria de vida do povo da floresta bem como pela
disseminação da economia sustentável na Amazônia, lutando contra grilheiros de
terra e latifundiários. A repercursão do crime correu mundo afora e mais uma
vez, lá estava Mario Lago lutando pela apuração isenta de todos os fatos,
buscando a punição dos assassinos e mandantes.
Mario
Lago atua ainda em 'O Salvador da Pátria' novela que retrata de uma certa forma
, em 1989 a vida política do país naquele momento tão intenso politicamente,
com a realização da primeira eleição direta para presidente em mais de 30 anos.
'Causos e
Canções de Mário Lago', dirigido por Mário Lago Filho, estreia no Teatro Café
Pequeno, Rio de Janeiro, tendo, depois, saído em excursão pelo Brasil por quase
10 anos.
Em 2001 a
rua onde mora é fechada para comemorar seus 90 anos. Artistas e Autoridades o
reverenciam. Mario Lago desafia o tempo e diz querer chegar aos 100 anos.
Morre em
2002, em sua casa. Foi velado no Teatro João Caetano, onde estreou como autor,
numa despedida regada a samba e cerveja, de acordo com a antiga tradição da
boemia.
E não
para por ai... Em 2006, o concurso Nacional de Marchinhas carnavalescas é
criado na Fundição Progresso, na Lapa, RJ com o prêmio Mario Lago.
A Casa da
Moeda lançou, no dia 25 de novembro de 2011, a medalha comemorativa aos 100
Anos de Nascimento de Mário Lago. Seus netos Juliana Lago e Mário Lago Neto
descaracterizam os cunhos da medalha ao lado do Chefe de Gabinete da CMB,
Carlos Henrique Silva Boiteux.
Mario
Lago está imortalizado para sempre na vida cultural do Brasil. O tempo passou
lento e preguiçoso pela sua vida. O tempo parece jamais envelhecer sua obra,
talvez por conta de sua relação com o tempo, talvez por conta do acordo que ele
com o tempo fez.
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